Primaz do Brasil, natural de Brusque participou da canonização de Irmã Dulce

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger é bispo de Salvador.


“Penso que será preciso um longo tempo para eu me convencer que estou vivendo tudo isso. O que melhor traduz meus sentimentos é a palavra “graça” – isto é, estou diante de um presente de Deus, imenso e belo, totalmente imerecido da minha parte. O Senhor sempre me surpreende com sua bondade e misericórdia”. É desta maneira que o brusquense, hoje Bispo de Salvador (BA), Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, define a experiência vivenciada no último final de semana, em Roma, durante a canonização da primeira santa nascida no Brasil, a Santa Dulce dos Pobres.

Não é a primeira vez que Dom Murilo acompanha este processo. Enquanto Bispo Auxiliar de Florianópolis, ele participou da beatificação de Irmã Paulina, em 1991.

Depois, ao retornar como Arcebispo, veio a canonização, em 2002. Quando chegou em Salvador, em 2011, Irmã Dulce foi beatificada e, agora, meses antes de deixar a Arquidiocese, pode acompanhar mais esta canonização. “Ao longo desses meus oito anos à frente da Arquidiocese Primacial do Brasil, participei de perto de tudo o que dizia respeito à devoção da Bem-aventurada Dulce dos Pobres.

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Em função disso, fui penetrando sempre mais na vida de uma pessoa que se destaca pela simplicidade e pela radicalidade: ela foi totalmente de Cristo e, por causa dele, totalmente dos pequenos, pobres e enfermos. Tudo o que fazia ou planejava era em função de seus necessitados, sem nunca perder de vista o essencial: o amor”, afirma Dom Murilo.

Segundo ele, durante séculos, os brasileiros se acostumaram a conhecer e admirar a vida de santos europeus. “De repente, descobrimos que há muitos santos ao nosso lado, vivendo em profundidade o Evangelho de Jesus. Em outras palavras: é preciso ser santo hoje, nas circunstâncias atuais de nossa vida. Santo é quem faz a vontade de Deus; santo é quem segue Jesus Cristo; santo é quem ama a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo”, observa.

Os ensinamentos

Dom Murilo conta que, certa vez, um jovem de 15 anos se aproximou de Irmã Dulce e fez um pedido: que ela não o deixasse morrer na rua. O garoto foi acolhido e passou a receber cuidados. No dia seguinte, um novo pedido, desta vez de uma senhora doente. E assim foram surgindo outros, muitos outros… “A cada “sim” que ela dava, o Senhor lhe fazia novos pedidos. Se ela não tivesse acolhido, em um dado momento, alguém que foi colocado em seu caminho, Deus não deixaria de convidá-la a ser generosa. Mas, a partir daí, ela é que não conseguiria distinguir a voz de Deus em meio a outras vozes”, afirma Dom Murilo.

Segundo ele, uma lição preciosa deixada por Santa Dulce é a capacidade de envolver outras pessoas em projetos. “Sozinha, teria ido mais rápido para frente; mas envolvendo outros em seus trabalhos, motivando-os a se unirem a suas preocupações e ideais, ela fez mais, atingiu um maior número de pessoas e sua grande obra social continua servindo os pobres, mesmo depois de sua morte”, avalia.

Processo de canonização

Santa Dulce dos Pobres entra para a história do Vaticano como o terceiro processo de canonização mais ágil, 27 anos após a sua morte, atrás apenas de João Paulo II e Madre Teresa de Calcutá. Para Dom Murilo, isso se deve ao grau heróico de virtudes da Santa. “Tanto isso é verdade que o povo já a “canonizou” em vida, chamando-a de “O Anjo Bom da Bahia”. Ninguém, aqui, tinha dúvidas da santidade de Irmã Dulce. Depois, os milagres foram muito evidentes, especialmente o segundo, necessário para a sua canonização: um cego, depois de 14 anos, recuperou a visão. Aliás, os problemas físicos e as deficiências do globo ocular de José Maurício, o miraculado, continuam com os mesmos problemas. Tanto é assim que se hoje ele for a qualquer oftalmologista fazer um exame, o diagnóstico será o mesmo: ´Infelizmente, você não poderá mais ver!'”, esclarece Dom Murilo.

O fato é que o maestro José Maurício Bragança Moreira, de 51 anos, consegue ver e, inclusive, acompanhou ao lado da esposa, a canonização de Santa Dulce em Roma. Médicos brasileiros que o examinaram preliminarmente e mais outros sete médicos consultados pela Santa Sé não tiveram dúvidas ao afirmar o que a ciência não explica, pois, fisiologicamente, ele ainda não é capaz de ver.

Santidade possível

De acordo com Dom Murilo, este momento é propício para glorificar a Deus, fonte de toda a santidade. É também tempo de agradecer por colocar no caminho pessoas que são testemunhas vivas de seu Evangelho, as quais comprovam que as propostas de Jesus podem ser difíceis, mas não impossíveis de serem concretizadas. “Podemos, também, nos perguntar: O que estou fazendo pelos necessitados? Irmã Dulce, pequena, frágil, com graves problemas de saúde, tinha mil razões para ficar quieta num canto. Mas não aceitou isso: foi à luta, desdobrou-se, multiplicou-se, pois não conseguia ficar indiferente diante de tanto sofrimento humano que via à sua frente”, enfatiza o Bispo.

Para Dom Murilo, não basta se alegrar com a canonização de Santa Dulce dos Pobres ou, tampouco, se vangloriar por ela ser brasileira, já que ninguém ganha méritos pela santidade de outros. “Temos, sim, uma razão a mais para transformar nossa vida num dom a Deus e, por causa dele, aos irmãos. Se cada um de nós, como Santa Dulce dos Pobres, fizer a sua parte, o mundo se tornará melhor, mais justo e santo”, finaliza Dom Murilo, que espera a visita dos catarinenses à região Nordeste do país, onde há também um sinal muito forte do amor de Deus.

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