Senador Cristovam Buarque defende a educação como a principal mudança para o país avançar, durante conferência magna em Brusque


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Qual é o imperativo que devemos ter a partir de 2022? Foi através dessa pergunta, que o senador e professor Cristovam Buarque proferiu, na noite de segunda-feira, 18 de setembro, a segunda conferência que integra o projeto Ciclo Brusquense de Conferências Magnas Temáticas. O evento foi realizado no teatro do Centro Empresarial, Social e Cultural de Brusque e contou com um público formado por estudantes, empresários, professores e profissionais dos mais diversos setores.

Na oportunidade, o idealizador do projeto, o historiador Paulo Vendelino Kons, ressaltou o objetivo do Ciclo de Conferências, que visa dar a devida importância a datas comemorativas, como o Bicentenário da Independência do Brasil. “Isso gera grande potencial de mobilização de forças criativas vitais à reafirmação da nacionalidade e ao desenvolvimento de novos projetos. E celebração à altura desse acontecimento permitirá não apenas uma reflexão sobre o passado, mas a possibilidade de reformulação do futuro”, destacou.

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Na oportunidade, o presidente da Sociedade Amigos de Brusque, advogado Ricardo Vianna Hoffmann, deu as boas vindas ao senador Cristovam Buarque e destacou que a conferencia é uma excelente oportunidade de compartilharmos as melhores experiências, práticas e dialogarmos sobre as nossas dificuldades. “Sua luta pela educação é exemplo a ser enaltecido e seguido. Após esta palestra tenho certeza de que cada um aqui vai ombreá-lo nessa busca pela educação que melhorará nossas vidas e de nosso país”, enfatizou.

 

A conferência

Através do tema ‘Educação, Prioridade Nacional: Um Imperativo!’, o senador Cristovam Buarque discorreu, durante pouco mais de uma hora, sobre a atuação do Brasil neste segundo bicentenário e o que, em sua análise, é necessário para a nação avançar.

“Estamos precisando de um novo imperativo para nos conduzir ao longo do próximo terceiro século da nação brasileira. E aqui vem a pergunta: qual vai ser o nosso imperativo para superar o esgotamento que hoje vive essa família de 220 milhões de habitantes para o século que vem aí? Creio que precisamos de duas coisas, que estão faltando hoje: uma é a coesão nacional, de nos sentirmos parte de uma nação e não como parte de uma pequena república dentro de uma nação. É fazer com que o Brasil seja uma república e não a soma de muitas pequenas repúblicas. E a segunda coisa que precisamos é rumo: saber para onde é que queremos ir, para, como diz o verso do hino da Independência, ‘entre as nações do universo resplandece a do Brasil’. Hoje não estamos resplandecendo. Países como a Coreia do Sul resplandecem muito mais. Até mesmo ao redor de nós, Chile e Colômbia resplandecem mais. Isso sem falar da Europa, da América do Norte”, analisou.

Segundo o senador, para trazer a coesão são necessários passos fundamentais. O primeiro, conseguir que os políticos, os líderes brasileiros, deem bons exemplos e não maus exemplos como hoje dão. Para isso, é preciso acabar privilégios, pois eles desfazem a respeitabilidade e quebram a coesão do país. “Vamos precisar também de partidos sólidos, o que hoje não temos. Partidos que tenham coesão de propósitos e de princípios, que cada membro do partido saiba o que ele propõe como imperativo, e um código de conduta comum. Temos que trazer o mérito para o processo político. Para isso precisamos nos indignar com a situação que está aí. Já nos indignamos felizmente e finalmente com a corrupção no comportamento. Precisamos nos indignar com a corrupção nas prioridades”, enfatizou.

Buarque também destacou a necessidade de uma reforma política e de se acabar com a impunidade e com o crime organizado. Ao falar do segundo ponto, o rumo, o senador comentou que é preciso reformar muitas das leis brasileiras para nos adaptarmos a um novo mundo que está surgindo. “Um dos exemplos é a Reforma Trabalhista. Não dá para o Brasil encontrar o rumo com leis trabalhistas que nada têm a ver com o terceiro centenário. As leis trabalhistas brasileiras foram feitas na época em que elevador não era automático, era preciso um ascensorista. Fala-se que nos Estados Unidos, daqui cinco anos os caminhões não terão mais motoristas. Vamos ter que conviver com a modernização”, frisou.

Para Buarque, o Brasil tem que passar a ser um produtor de ciência e tecnologia, é esse o futuro. Não fazer isso é ficar para trás, é ser uma nação secundária, sem importância, na concepção do senador. “Para esse país ser uma nação da economia do conhecimento, não mais o imperativo do braço forte do escravo, não mais o imperativo da mão hábil do operário, mas do cérebro dos operadores, dos criadores, o imperativo do próximo século da nossa nação será a educação”, ressaltou.

 

Educação

Hoje, segundo Buarque, o Brasil tem 13 milhões de analfabetos e o rumo para o terceiro centenário, é erradicar o analfabetismo. “Ser analfabeto hoje é como ser torturado. Para um país começar a ter um rumo nessa nova sociedade da alta tecnologia, da economia do conhecimento, na sociedade baseada no conhecimento e não mais no músculo, na mão, mas na mente, é preciso não desperdiçar um único cérebro que nasce no Brasil. Isso significa cuidar das crianças a partir do ano zero. Sobretudo os primeiros seis anos, em que se começa a formar tudo no cérebro de uma criança, que depois vai aprender. Lamentavelmente no Brasil não cuidamos das crianças como nação. As famílias que podem cuidam, mas muitas não podem”, argumentou.

Buarque citou uma frase da ex-senadora Heloísa Helena de que ‘se o Brasil adotasse uma geração de crianças, essa geração depois adotaria o Brasil’. Para ele, o imperativo do país é adotar as crianças do ponto de vista de fazer com que elas tenham possibilidade de desenvolver o talento que vai ser necessário para o terceiro século da nação. E isso se faz na educação de base, numa educação igual para todos. “Não faz parte do imaginário brasileiro sermos campeões mundiais de educação. Faz parte sermos campeões mundiais de futebol, em produção de automóveis, de soja, de carne, mas não de saber. Não está intrínseco na lógica, no sentimento de nação, termos muitos prêmios Nobel. Quando o Brasil perdeu de 7 a 1 para a Alemanha foi uma tragédia. Mas perdemos hoje, todos os dias, de 100 a 1 para a Alemanha em educação. E ninguém, no Brasil, fica triste, entra em crise, por sermos um dos últimos países do mundo em educação. O nosso imperativo exige uma educação de qualidade e igual para todos. Não podemos aceitar que o talento só seja praticado por quem tem dinheiro para comprar educação. O acesso tem que ser igual”, afirmou.

Segundo o senador, é necessário que as escolas sejam igualmente boas, tendo liberdade nos métodos aplicados, mas com habilidades para que os talentos sejam desenvolvidos igualmente. Além disso, Buarque defendeu que a educação seja responsabilidade na União e não mais dos municípios. “Precisamos fazer com que criança seja brasileira e não municipal. Precisamos ‘brasileirar’ as crianças, fazer com que a nação, nesse terceiro centenário, adote as crianças, para elas não ficarem à mercê do seu prefeito ou da sua família, que pode ter dinheiro ou não ter. Dar acesso a elas à melhor educação que o mundo oferece. Só que isso não se faz de um dia para o outro. Isso se leva décadas para fazer. A minha proposta é que a gente faça isso nas primeiras décadas do terceiro centenário, ao longo de 25, 30 anos, por cidade. A União adotar as escolas de uma cidade, e assim por diante, com uma carreira nacional do magistério”, comentou.

O senador falou ainda sobre melhorar a relação das universidades com o setor produtivo, que hoje não estão aliados. De acordo com Buarque, não tem jeito de produzir ciência e tecnologia se não houver uma convivência com o setor empresarial e com o estado. “Se a gente conseguir fazer os empresários casarem com as universidades, e estas terem alunos de alta qualidade, o Brasil vira um país de ciência e tecnologia. Basta o BNDES, em vez de financiar açougues como financiou e terminou o dono do açougue preso, começar a financiar as empresas de alta tecnologia”, afirmou.

Ao final de sua conferência, o senador fez questão de agradecer o convite para participar do evento. Segundo ele, é preciso que as próximas eleições tragam esse modelo de debate, para se tentar mobilizar o país a pensar a ideia de imperativo, de coesão e de rumo. “Não podemos deixar de ter um pacto nacional para realizar objetivos imperativos para construção do Brasil do terceiro centenário. Sinto o maior prazer de estar aqui debatendo esse assunto”, complementou.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Brusque (CDL), Michel Gartner Belli, encerrou o evento agradecendo a presença do senador Buarque, e enaltecendo a educação como o caminho para a mudança tão necessária. “Estamos passando por um momento de dicotomia, onde nos traz tristeza, desânimo e até certo ponto, raiva, de tantas descobertas de casos de corrupção, mas por outro lado nos traz esperança de que após toda justiça feita, a ética e a moral voltem a ser responsáveis por construir as bases que irão guiar a conduta do homem, da sociedade. E para que isso seja possível, é necessária a devida atenção à educação em todo país. Quero agradecer a presença do senador Cristovam Buarque em nos trazer um pouco do seu conhecimento e dizer que as organizações que integram o Grupia têm orgulho e satisfação em tê-lo conosco, para uma conferência com tema tão relevante”, frisou.

 

Visitas

Durante sua passagem em Brusque, o senador Cristovam Buarque visitou o Colégio Cônsul Carlos Renaux e a Faculdade São Luiz, momento em que pode conversar com alunos e acadêmicos.

 

O evento

O Ciclo Brusquense de Conferências Magnas Temáticas foi idealizado pelo historiador Paulo Vendelino Kons e conta com o apoio de diversas entidades do município, como a Casa de Brusque, o Instituto Aldo Krieger (IAK), a Associação Empresarial de Brusque (ACIBr), a Câmara de Dirigentes Lojistas de Brusque (CDL) e as Igrejas Católica, Evangélica Luterana e o Conselho de Pastores de Brusque, além do Hotel Gracher. O objetivo é ofertar, gratuitamente, um ciclo de sete Conferências Magnas Temáticas, marcando cada ano que falta para o Bicentenário. O projeto teve início em 2016 e segue até 2022.

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