Opinião: “Não podemos perder a oportunidade de aprender”

Jornalista diagnosticado há dois anos com Depressão traz o seu relato sobre a doença.


Por João Paulo da Silva*

Foi a cena mais triste que já vi. Sofri com a morte da minha sobrinha, mas minha maior dor foi ver a dor da minha irmã, pois, por mais que eu quisesse fazer algo, era uma dor que era só dela, só ela podia sentir e saber o que aquilo representava. É o tipo de situação que só a pessoa sabe da dor dela e aí é um grande ponto: como medimos a dor que outra pessoa sente? Como sentir o que o outro sente e compreender aquilo? Impossível.

E essa constatação é o grande ponto. Há quase 2 anos diagnosticado com depressão, muita gente não sabe entender a dor do outro. E o Setembro Amarelo vem com a oportunidade de refletirmos e aprendermos sobre essa dor do outro, já que este é o ponto das doenças mentais, como depressão, não é o que você acha que elas são, mas sim sobre o que o outro sente. Até porque cada ser é único e cada dor/sentimento são únicos, mas ainda, em 2021, com tanto debate, caímos nos mesmos estereótipos que só agravam para quem está doente: frescura, falta de Deus ou igreja, psiquiatra é para quem tá louco e tantas outras coisas que não ajudam. 

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Em relação a isso tenho uma coisa triste pra te dizer: – Não é nada disso. Lembre-se: é sobre o outro e não sobre você. Tenho minha fé e minha religião e frequento minha igreja, tenho meus amigos, por sorte tenho uma família compreensível e um bom ambiente de trabalho que me ajuda. Ainda, com tudo isso, houve momentos que a vida era apenas um vazio sem sentido e acordar era uma tortura. No começo da pandemia estava feliz por não ter que sair e dar desculpa para as pessoas que eu não queria sair, já que há sempre alguém disposto a julgar, assim, se recolher obrigatoriamente parecia uma boa. 

Mas há também a montanha russa de emoções, porque tem momentos que você se sente bem, mas não significa que você está bem, e as pessoas não entendem, ou não querem entender, já que os julgamentos são mais fáceis. Ouvi tanta coisa que me fizeram mal, mesmo cercada de boas intenções. Se você conhece alguém que está com depressão, aproveite esta oportunidade para aprender mais, manter o que você acha com você e ter empatia, a dor do outro não é a sua. Tem muita gente sofrendo calada por causa de preconceito e isso pode levar uma vida.

Seus comentários desnecessários podem agravar um quadro que já não está bom. E esse mesmo preconceito faz com que a pessoa não queira se abrir e vai se fechando, agravando ainda mais. Não é só dizer para  alguém doente que ela pode contar com você, mas sim demonstrar para a pessoa, para que ela se sinta confiante em se abrir, já que não é simples atacar o problema. Lembre-se: não é sobre você, é sobre o outro.Caso você esteja sofrendo sozinho, se sentindo perdido, como o gato disse pra Alice, em Alice no País das Maravilhas. “Eu não sei para onde ir! – disse Alice. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve,” respondeu o gato.

Tente buscar ajuda, não sofra só. O que tem me feito melhorar é ajuda profissional: psicólogo, psiquiatra (medicação), além das boas pessoas que compreendem o que estou passando. Cada etapa vencida é uma vitória, e a primeira etapa é compreensão e ajuda profissional. Aprenda e compreenda para ajudar e aprenda e compreenda para se cuidar.

Você pode::

Perguntar: “- posso acompanhar você ao seu médico?” ou “quer conversar sobre isso?”;

Acha que não consegue fazer nada?

Dê um abraço e diga o quanto gosta da pessoa;

Tente compreender e dar vazão para o que a pessoa está sentindo, isso  é fundamental;

Reflita: não minimize nem ignore comentários alarmantes ou suicidas;

É importante ter paciência e manter a calma, principalmente quando há oscilações de humor;

Há muita informação, aproveite para aprender.

*o autor é jornalista, diagnosticado há dois anos com depressão, em tratamento e melhorando a cada dia.

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