Especial – Índice de criminalidade cai nos Residenciais


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Cedrinho

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“Paguei em prestação para morar no inferno”.

A frase de uma moradora que não quer ser identificada por questões óbvias de segurança, retrata a realidade do Residencial Minha Casa, Minha Vida do bairro Cedrinho, em seu primeiro ano. Inaugurado em outubro de 2012, o local conta atualmente com 1400 pessoas, em 290 apartamentos. Segundo ela, a primeira síndica (já afastada) não conseguia administrar o condomínio. “Tínhamos que pedir licença aos traficantes para passar. Observava muitas coisas aqui e não podia fazer nada. A bandidagem rolava solta dia e noite”, afirma. De acordo com a moradora, acordar de madrugada com a polícia arrombando apartamentos também era parte da rotina. Porém, ela não se incomodava. “Preferia quando eles estavam aqui direto”.

Ao menos dois traficantes foram presos em operações como essa e um terceiro está foragido. O medo e a insegurança já fizeram ela pensar em sair do condomínio diversas vezes. “Se eu sonhasse que seria assim, jamais teria vindo. Mas, investi o que não podia nesse apartamento e não tenho para onde ir”, conclui.

Porém, desde que o novo síndico, Edson Zeferino, assumiu o posto, em outubro de 2013, muita coisa mudou. “Desde que ele chegou há muita conversa”, explica a moradora. Segundo ela, foi Edson quem conseguiu inibir o consumo de drogas dentro do residencial, por exemplo.

“Sabemos que há incidência de tráfico. Mas, é um número mínimo. A gente monitora e passa as informações à Polícia Civil, que faz a investigação”, diz o síndico.

Ele confirma que fez “valer as regras do regimento interno. Quando a pessoa não é morador, é convidada a se retirar. Se é morador, recebe multa”, diz. E as multas pesando no bolso contribuíram para os índices de criminalidade cair. Outro fator que influenciou diretamente na rotina, foi a implantação de um sistema de segurança terceirizado há cerca de um ano. Com o serviço, há um controle maior de quem entra e quem sai. Câmeras também foram instaladas e já monitoram o local parcialmente. A intenção é que sejam instaladas na área total do condomínio. Além disso, a Polícia Militar está presente constantemente, realizando rondas.

Neste ano, duas ocorrências mais graves foram registradas, uma na Páscoa e a outra recentemente: uma tentativa de homicídio e a outra, briga com ameaça. Segundo Edson, casos isolados de conflitos entre moradores, que já tinham problemas há bastante tempo. “Dos quatro envolvidos, dois já foram embora e os outros a gente fica monitorando”, confirma. Mesmo já tendo sido intimidado, ele não deixa de realizar seu trabalho por isso. “Queremos implantar vários projetos sociais (cinema, instalação de parques novos, viagens para idosos) e só quem segue as regras poderá participar. Então, já melhorou bastante e as pessoas estão entendendo isso”, encerra.

 

A polícia

A Polícia Militar não possui o registro de ocorrências específicas do Residencial Minha Casa, Minha Vida, apenas da região a qual pertence, o bairro Cedrinho. Em 2013, de janeiro à maio, foram 53. No mesmo período de 2014, foram 60 registros. Como o número se manteve próximo, o sub-somandante do 18º Batalhão, major Moacir Gomes Ribeiro, acredita que isso reflete a queda de ocorrências no residencial. “A gente sabe que os crimes ocorrem, mas não podemos afirmar que é um problema social de lá. Colocar uma viatura 24 horas na porta, por exemplo, faz parecer que é um local de violência, que a gente sabe que não é e nem temos disponibilidade para isso. Por isso, fazemos rondas constantemente (Operação Presença) nos dois condomínios”, diz.

Ele afirma ainda que a Polícia Militar sempre foi parceira, já esteve presente conversando com os moradores e está sempre à disposição da comunidade. “Há uma dificuldade de investigar um condomínio, porque é diferente de uma casa que você consegue monitorar. Mas, as medidas de segurança adotadas pelos moradores, as ações sociais realizadas, mostram que os residencias estão mais organizados e que há uma conscientização. O que pedimos é que se algo acontece, os moradores não deixem de denunciar, porque só assim, através de denúncias formais, a polícia poderá agir.”

Já os números do Residencial Sesquicentenário, na Limeira Baixa, comprovam a mudança. De janeiro à maio de 2013, foram 15 ocorrências registradas através do COPOM. A mais grave ocorreu no dia 16/02/2013, quando Fábio Everton Wottrich, de 41 anos, foi agredido por um homem com um facão e encaminhado pelo Corpo de Bombeiros ao hospital, com vários cortes na cabeça. De janeiro à maio de 2014, foram apenas 06 registros, entre elas, arrombamentos e furtos.

 

A Secretaria de Assistência Social

Mirella Zucco Müller, secretária de Assistência Social e Habitação, tem a mesma opinião do major. Para ela, o trabalho articulado dos líderes dos residenciais, com moradores, a polícia e a secretaria é que trouxeram esses resultados. “A partir do momento que eles se organizaram e buscaram estratégias para diminuir a criminalidade demos todo o apoio. Trabalhamos a prevenção e a polícia a intervenção.”, explica.

Na Limeira, vários projetos já foram implantados. O acompanhamento é feito a partir das demandas apresentadas pelo síndico ou moradores, afirma Mirella. “Têm muitas famílias que ainda não superaram a situação de vulnerabilidade social, então através do CRAS realizamos a assistência. Agora, outro projeto que vamos implantar em parceria com uma empresa, será voltado para auto-estima das mulheres, onde elas poderão confeccionar bijuterias e ingressar no mercado de trabalho como autônomas”, conta. Outra iniciativa já colocada em prática é o cinema. “Trabalhamos a mudança de concepções através da educação. Esses dias, foi exibido um filme, onde a personagem se perdia ao sair, sem avisar a mãe. Então, a psicóloga ensina como as crianças devem agir, com base na história que assistiram. E assim, conseguimos os resultados. Por isso, temos que dar continuidade ao trabalho social. As pessoas de fora tem uma visão do coletivo e apenas das coisas ruins. Das coisas boas, eles não têm acesso, por isso criam essa imagem.”

Em breve, projetos semelhantes também devem ser implantados no residencial do Cedrinho.

 

Sesquicentenário

Hoje, nos 336 apartamentos do residencial localizado na Limeira Baixa, moram cerca de 1.730 pessoas. E a síndica, Cláudia Luccote da Silva, confirma “do ano passado pra cá, os índices de criminalidade caíram mais de 90%”. Ela afirma que orienta a comunidade a sempre fazer o registro das ocorrências através do COPOM ou da delegacia, até para os moradores terem um amparo legal. “Todo lugar vai ter droga, prostituição…infelizmente. Mas aqui pelo espaço físico acaba aparecendo. Mas, sabemos que são cerca de 10 pessoas. A casa é deles, não podemos interferir. É repassado para a polícia, que investiga”, diz a síndica.

Porém, ela enaltece que desde a implantação do sistema de segurança, a realidade é outra. A moradora, Pâmela Rodrigues, que está no local desde a inauguração em junho de 2012 é testemunha disso. “Aqui nunca foi impossível de morar. No começo, a gente via coisas sendo arremessadas pela janela, pessoas estranhas rondando os blocos. Agora, o único que passa a noite é o guarda. Está bem melhor, me sinto mais segura.Saio de casa, deixo a janela aberta e sei que não vai sumir nada. Aqui tem muita gente boa, trabalhadora e honesta. É uma minoria que acaba estragando. E essas pessoas vem pra cá achando que vão se dar bem, mas não se criam, vão embora.” O que incomoda realmente a moradora é a “fama” do lugar, mas ela sabe que os projetos já estão contribuindo para acabar de vez com isso. “Temos o trabalho através do CRAS, agora aulas realizadas pelo CEJA aqui dentro, aulas de judô, além do cinema, bombeiro-mirím e outros projetos que vêm ajudar a comunidade. Vai melhorar ainda mais”, conclui Cláudia, que tem a árdua missão de coordenar todo esse trabalho.

Texto e fotos: Caroline de Souza

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