Dia do Trabalhador: há o que comemorar?


Estamos nos aproximando de mais um 1º de maio, Dia do Trabalhador. Uma data que, a meu ver, serve mais como reflexão do que para comemorar algo. Afinal de contas, embora estejamos em pleno século 21, muitas situações nos remetem há um período lá atrás, que deveriam ser exatamente isso, passado, mas que permanecem vivos, apenas maquiados por outras máscaras.

 

O surgimento do Dia do Trabalhador nos remete a um fato trágico, ocorrido em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos. Milhares de trabalhadores realizaram uma manifestação para pedir a redução da jornada de trabalho para oito horas (a carga horária superava 12 horas por dia). Foi o primeiro dia de uma série naquela semana de protestos que terminaram em repressão violenta. Pessoas mortas, outras tantas feridas e, três anos depois, na França, se decidiu utilizar o 1º de maio, em virtude de tais acontecimentos, como data símbolo da luta da classe trabalhadora. No Brasil, o presidente Artur Bernardes declarou a data como Dia do Trabalhador em 1925.

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De 1886 para cá, muita coisa, aparentemente, mudou. Não há como negar os grandes avanços conseguidos pela classe através das décadas, como direitos assegurados pela legislação, algo que o Brasil pode se orgulhar de ainda apossuir, graças à luta constante e á vigília permanente do movimento sindical trabalhista. Mas, ao mesmo tempo, percebe-se que essas conquistas estão muito aquém daquilo que a classe necessita. E muita, mas muita coisa ainda precisa ser mudada.

É inadmissível, por exemplo, que no mesmo século 21, cujos avanços em todos os campos norteiam a sociedade, ainda tenhamos trabalho escravo ou similar a ele. Que a valorização dada aos trabalhadores por governos e patrões seja próxima do desleixo. Cada um de nós precisa trabalhar praticamente cinco meses por ano apenas para pagar impostos ao governo.

 

Da mesma forma, a dedicação desempenhada nos locais de atividade não é devidamente reconhecida e valorizada pelos donos dos meios de produção. O trabalhador é tratado como útil até que as condições de sua mão de obra física consiga sustentar a mesma linha produtiva que alimenta as fábricas, grandes empresas, a indústria de um modo geral.

 

Por isso tudo, penso que o 1º de Maio não deve ser encarado como mais um feriado ou data no calendário. O momento precisa ser de reflexão sobre qual o papel que o trabalhador está desempenhando e qual o retorno que recebe por conta daquilo que entrega à sociedade ou, mais precisamente, a quem detém o chamado poder. Mais que uma reflexão, é preciso, da mesma forma, ação. Ou continuaremos por mais tantos e tantos anos a ilustrar o calendário com apenas uma data onde não há, definitivamente, o que se comemorar.

 

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