Em troca de farpas com Marlina, Pirola expõe situação pessoal e acusa ex-prefeito de machismo

Pirola afirma que Marlina " Não vai ser uma Marielle" e Eccel diz que seu comentário tem outro sentido


Vereadores se digladiando. A troca de farpas entre parlamentares é uma situação bem comum na Câmara Municipal. Já assistimos debates homéricos entre vereadores nas legislaturas anteriores. Acontece que desta vez, o debate tomou uma proporção maior, foi para as redes sociais, situações pessoais vieram a tona e até o ex-prefeito Paulo Eccel foi citado e responsabilizado por comentário machista, de acordo com Jean Pirola, na rede social da vereadora Marlina (PT).

No entanto, é necessário contextualizar os fatos. Tudo começou no mês de junho, quando um morador da cidade inventou de tirar uma foto ao lado de servidoras que aplicavam vacina contra a Covid-19 com uma mensagem contra Bolsonaro. Não se sabe o contexto desta foto, se ele tirou a foto e as servidoras , sem perceberem que se tratava de um manifesto, entraram na imagem ou participaram conscientemente. Essa é a foto:

Foto: Divulgação.

Na sessão de 15 de junho, Jean Pirola (Progressistas) fez um pedido de informação ao executivo no sentido de saber quem eram as servidoras envolvidas na imagem, que cargo ocupam, além de unidade de saúde que trabalham e se o registro foi feito durante o horário de trabalho, quem é o superior hierárquico das servidoras e se este concedeu autorização para foto. O argumento utilizado pelo vereador era para fins de fiscalização. No dia seguinte, Marlina de Oliveira (PT) utilizou suas redes sociais para comentar o fato, que segundo ela, é perseguição aos servidores. A parlamentar escreveu este texto:

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“Em Brusque há mais preocupação em perseguir servidores pra defender Bolsonaro, do que em denuncia de CORRUPÇÃO por de esquema de rachadinhas no governo.

🗣️ Engraçado, que eu não vi os vereadores Jean Pirola e Ivan Martins, mandando pedido de informações , ou então, cobrando posicionamento do procurador no caso das rachadinhas, como estão fazendo com as servidoras no caso da foto. (piada 🤡)

PARA O GRANDIOSO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO DAS RACHADINHAS A ATITUDE É: SILÊNCIO TOTAL.

🗣️Mas eu tô aqui pra ajudar lembrar a prefeitura e os vereadores em questão, que a cidade está em situação de emergência, ponte caindo e a preocupação não poderia JAMAIS ser perseguir servidores.
Isso tá muito errado. Muito. #hipocrisia
, finalizou a vereadora.

A postagem teve comentário do ex-prefeito de Brusque Paulo Eccel que escreveu o seguinte: ” Uns se preocupam com democracia, outros com peitos de silicone!! Sei bem!“.

Chegamos na sessão de 22 de junho, a primeira sessão posterior a postagem da vereadora nas redes sociais. Pirola rebateu a vereadora. O legislador também se amparou no Regimento Interno da Câmara Municipal para defender seu posicionamento, grifando trechos do documento que versam sobre os deveres da vereança, como: “conhecer o Regimento Interno”, “respeitar os seus pares” e “tratar com respeito e independência os colegas, as autoridades, os servidores da casa e os cidadãos com os quais mantenha contato no exercício da atividade parlamentar, não prescindindo de igual tratamento”. Em seguida, ele sublinhou que o conjunto de normas considera incompatível com a ética e ao decoro parlamentar a atitude de “incitar pessoas ou segmentos da população contra decisão soberana do plenário ou contra qualquer de seus integrantes”.

Pirola afirmou que não é a primeira vez que a petista “ataca” colegas de parlamento pelas redes sociais. “Desta vez, ela atacou eu e o vereador Ivan, pelo simples fato de estarmos exercendo a nossa função fiscalizatória. Nós fizemos um pedido de informação solicitando se aquelas funcionárias que tiraram a fotografia – que girou Santa Catarina – estavam em horário de serviço, em qual local elas trabalham e quem eram. Isso é um direito do vereador, porque o Estatuto do Servidor Público é claro: independente de PT, PSDB ou o que quer que seja, é proibido fazer qualquer tipo de apologia política em local e horário de trabalho”, argumentou.

No que tange às supostas “rachadinhas” citadas por Marlina, o vereador ressaltou que “ela também não fez nenhum requerimento sobre ‘rachadinha’ de governo”. Adiante, ele indagou: “Por que atacar os vereadores nas suas redes sociais? Estou no meu terceiro mandato e é a primeira vez que vejo, em menos de seis meses, um parlamentar atacar vários vereadores em redes sociais, citando seus nomes, sem vir à tribuna discutir”.

Nesta sessão, orientado pela esposa, o vereador não comentou o problema pessoal que, segundo ele, enfretara na gestão Paulo Eccel. Neste dia a vereadora Marlina não se manifestou sobre o pronunciamento de Pirola.

O dia 27 de junho

Na última sessão da Câmara Municipal de Brusque os ânimos se exaltaram. Marlina usou a tribuna para se defender dos argumentos utilizados por Pirola. “Lamentavelmente já se tornou comum em nossa sociedade quando um homem não possui argumentos para contrapor uma mulher se utiliza em arma para se colocar superior de vantagem frente uma uma mulher, normalmente feita através de ameaças físicas e morais. O vereador ao manusear o regimento interno ao expressar minhas opiniões como parlamentar, teria atacado os vereadores e os desrespeitados. Declarou que precisam dar um basta. Em uma fala, que pra mim, parece ameaçador. Quais são essas situações que o senhor quer dar um basta? Eu não fui eleita para ficar perseguindo manifestantes”, pontua.

A vereadora também questiona Pirola sobre qual basta ele quer dar e se compara a Marielle Franco, parlamentar assassinada no Rio de Janeiro. ” O senhor pretende acionar o corregedor, o conselho de ética e pedir a cassação da única vereadora, a única mulher negra a se eleger nessa cidade, por que ela expôs nas redes sociais a sua opinião? O senhor pretende me dar uma voadora por acaso? O senhor pretende me dar um susto na calada da noite para me silenciar? Lá no Rio de Janeiro fizeram isso com uma vereadora, que foi morta a tiro há mais de três anos. Qual é o tipo de basta, vereador?” Confira o pronunciamento na íntegra:

Em resposta, Jean Pirola disse que o discurso da parlamentar foi um “texto pronto, o mais baixo que eu já ouvi um vereador utilizar a tribuna para novamente tentar criar um factóide contra um colega tentando jogar a sociedade novamente contra um parlamentar, desrespeitando o regimento interno desta casa. A vereadora desrespeita o regimento interno a cada semana. Vê se tem cabimento falando do basta. A senhora acha que tem algum bandido aqui?”, comenta o parlamentar.

Pirola comentou ainda um fato pessoal que o deixou, segundo ele, revoltado: ” A senhora gosta tanto de defender a mulher, mas na sua postagem em uma postagem do ex-prefeito cassado Paulo Eccel e eu entendi muito bem a frase que ele escreveu na postagem que a senhora fez pra mim, que ali ele está falando da minha esposa, uma parceira de trabalho da senhora da rede de educação. Em 2014, ela fez um cirurgia para tirar um cisto do seio e ela foi obrigada a colocar um implante mamário e ela pediu um direito que ela dela. A cada cinco anos o servidor tem direito de pegar uma licença prêmio e foi negada a ela para fazer essa cirurgia. Ela teve que pegar um atestado médico e ficar 15 dias em casa e voltar sem se recuperar par a sala de aula, com vários pontos, tendo que pegar criança no colo. Seu ex-prefeito deveria mandar essa frase para todas as mulheres de Brusque, Santa Catarina e a senhora deveria coibir esse tipo de comentário nas redes sociais. Eu entendi muito bem essa frase, porque eu tive essa discussão com ele. É vergonhoso. Ele deve uma explicação a todas as mulheres de Brusque”, afirma. Confira o pronunciamento na íntegra:

O que dizem os envolvidos?

A reportagem do Olhar do Vale procurou os envolvidos nesta discussão. De acordo com o vereador Jean Pirola, o prefeito da época Paulo Eccel negou a licença-prêmio para a esposa por ele ser de oposição e que a decisão veio do próprio prefeito e não envolveu a Secretária de Educação na época, Gleusa Fischer, do mesmo partido que o parlamentar. O vereador afirma que não iria levar esse assunto pessoal para a tribuna, mas o comentário do ex-prefeito motivou o edil: “Pra mim essa frase nos comentários foi a gota d’água”, afirma Pirola.

O parlamentar também comenta sobre a postura da vereadora Marlina nas redes sociais. ” Eu nunca usei as redes sociais para falar dos colegas. Ela pode usar a tribuna, que lá é o espaço para discussão. Ela usa o fato de ser mulher para se vitimizar. Ela não vai ser uma Marielle, uma mártir”.

Já a vereadora Marlina reafirma: “eu não feri o regimento interno e que é desonesto afirmar que eu não conheço o texto. O que o vereador fez foi uma tentativa de que eu não me manifestasse nas redes sociais. Eu vou continuar manifestando as minhas opiniões sempre que for necessário, seja na rede social, na tribuna, nas lives. Não será o vereador Jean Pirola que vai me dizer aonde eu devo me manifestar”, confirma.

Quanto ao fato de o comentário do ex-prefeito estar na sua rede social e ela não tomar nenhuma atitude, segundo Pirola, a parlamentar afirma que ” tomei conhecimento do que tinha acontecido com a esposa do vereador no ato do seu pronunciamento. Eu não tenho possibilidade de me responsabilizar pela opinião das pessoas e eu não tenho como cercear. Eu achei desnecessária a exposição do fato pelo vereador, mas me solidarizo. Eu não tenho a pretensão de representar todas as mulheres, eu represento algumas que se identificam com as minhas pautas e a minha postura”, comenta.

O ex-prefeito Paulo Eccel, que fez o comentário nas redes sociais da vereadora também foi procurado para comentar o fato, que segundo Pirola, atingiu a família do vereador. ” Me deparo com uma situação surreal. No Instagram da Vereadora Marlina, fiz um comentário com um sentido e, surpreendentemente, ele é utilizado em outra dimensão pelo Vereador, em um caso que somente me chega ao conhecimento através do pronunciamento dele. Durante todo o meu governo, a Secretaria da Educação foi comandada pela Secretária Gleusa Fischer, do mesmo partido do vereador, e questões dessa natureza jamais precisavam ser decididas em outra instância, que não a própria Secretaria. E assim certamente ocorreu com a situação narrada no pronunciamento. Meu comentário, usando uma figura de linguagem (peitos de silicone) objetivava fazer coro com a postagem da Vereadora Marlina, de que o vereador em questão opta por temas não centrais, para estrategicamente, silenciar sobre temas importantes da cena política municipal”, pontua o ex-prefeito.

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Jornalista graduado pela Univali em 2003 e pós-graduado em Gestão Estratégia Empresarial (ICPG) e Marketing (Univali). Passou por diversos veículos de comunicação da cidade, principalmente rádio. Desde 2011 atua também com treinamentos na área de oratória. Já treinou políticos, empreendedores, profissionais liberais e pessoas que tinham interesse em dar entrevista na mídia. Em 2014 fundou o Olhar do Vale, portal de notícias de credibilidade na cidade.