“Não é para amanhã de manhã”


celsodeucher
Foto: arquivo pessoal

Nestas eleições, principalmente no segundo turno, o Brasil ficou dividido. Ficou claro que as regiões norte e nordeste optaram por um candidato diferente da população sulista. Isto fez com que muitas pessoas sugerissem a separação do Sul do resto do país. Por isso, o Olhar do Vale procurou o presidente regional do movimento O Sul é Meu País, Celso Deucher, para falar sobre este assunto. O movimento existe há mais de vinte anos.

Acompanhe a entrevista:

Olhar do Vale: conta um pouquinho sobre os ideais, a história do movimento e o que ele representa hoje.

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Celso Deucher: antes de qualquer coisa, o movimento não nasceu da disputa eleitoral, mas, desde 1987  já estamos caminhando e a legalidade do movimento, a fundação legal dele aconteceu em 1992, em Laguna, Santa Catarina. E o movimento nasceu com a responsabilidade, com o objetivo de discutir a questão do sul do Brasil, a participação dos três estados do sul do Brasil na federação brasileira. Ao longo desses 22 anos, nós fomos através de seminários, congressos, de palestras, enfim, de uma série de instrumentos de participação política democrática. Fomos concluindo que o cidadão do Sul quer que os três estados se transformem em um país. Esta é a tese básica e nós continuamos a discussão até hoje. Não é um movimento que quer amanhã de manhã declarar a independência dos  três estados do sul. Ele nasceu pra discutir e pedir em última instância um plebiscito no sul do Brasil, a exemplo do que aconteceu na Catalunha, ou na Escócia, que teve plebiscito, para que a população possa dizer se ela realmente quer continuar pertencendo ao Brasil ou se quer, em última instância, formar um novo país com o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.

Olhar do Vale: você acredita que isso é viável ?

Celso Deucher: Eu acredito, tanto que faz 22 anos que nós lutamos por isso. É obvio que as pessoas esperam as coisas para amanhã de manhã, e esse negocio de amanhã de manhã não existe numa luta como essa. A Escócia ficou 300 anos pra conseguir um plebiscito, o Quebec ta lá já há quase 100 anos pra conseguir 2 plebiscitos, que perderam, agora a Catalunha seguiu uma luta de quase 150 anos também, então quando a gente fala em tempo dentro do movimento separatista, nós falamos em tempo histórico, tempo longo, não tempos pra hoje ou pra amanhã. Porém, existem fatos que podem apressar essas coisas, por exemplo: quando caiu a União Soviética,  nasceram ali 23 países. De repente no Brasil uma declaração mal feita de um presidente, de um figurão político possa apressar de uma maneira.

Olhar do Vale: percebemos nas redes sociais muitos comentários preconceituosos sobre os nordestinos em função de o mapa do Brasil ficar dividido nestas eleições, com a preferência do norte e do nordeste para Dilma Rousseff.  Como você vê toda essa questão política?

Celso Deucher: esse pessoal que não gosta de nordestino sempre acha alguém pra botar a culpa. Para esses que ficam dizendo “ esse pessoal do nordeste veio aqui pro sul pra pegar nosso emprego”, bom se o cara pegou o emprego é porque o outro é um incompetente que não conseguiu segurar o próprio emprego. E outra: nós do sul vamos pro nordeste, vai lá nas agencias de viagens e vê o quanto nós viajamos pro nordeste. Eu tenho que dizer com toda a clareza: um dos responsáveis por criar o ódio entre o sul e os nordestinos foi a própria presidente, que disse para eles que nós somos “nariz empinado”, que nós não gostamos de negro, que não gostamos de nordestino  como estratégia de campanha. Os povos do Brasil se dão bem, eu não saio na rua batendo em ninguém, não se vê  essa briga étnica acontecendo aqui no sul ou mesmo no nordeste. O Estado Brasileiro precisa que nós, os povos brasileiros, briguemos entre nós o dia que, porque quando a gente se der bem, eles não vão mais ter lugares no poder.  O movimento O Sul é  Meu País não é ninho de tucano. Não é ninho de gente frustrada porque o candidato deles perdeu. Nós não temos nenhuma simpatia pelo Aécio, nem pela Dilma, os dois são candidatos ao Estado brasileiro e é justamente contra quem nós lutamos. Então o Aécio não melhoraria a nossa situação no Sul, a dona Dilma prometeu uma série de coisas que nós esperamos que ela cumpra. No entanto,  o movimento já nasceu há 22 anos e não é uma coisa oportunista, ou agora que deu tudo errado nós vamos montar um movimento separatista.

Todas as pessoas são bem vindas, desde que não tragam para o movimento essas disputas políticas,  esse ódio a outras pessoas, por que ódio não constrói nada. Quem é que é o nosso inimigo? Nosso inimigo chama-se Brasília, que é o câncer do país, é ali que está o Sarney, que está a bandidagem do mensalão,  essa vagabundagem que come nas nossas costas e leva nosso dinheiro lá pra cima e some. Quando nós precisamos ir a um posto de saúde, não tem médico pra atender, quando precisamos de uma rua asfaltada, não tem, porque roubaram a gente. Pra quem está aí pensando “agora a única saída é nos separar”, minha sugestão é: pense melhor, se for isso mesmo, se junte a nós. Mas quando se juntares, larga o teu partido político. Nós estamos lutando por uma causa há 22 anos e nós acreditamos que o sul pode ser um grande país independente, pode ser um grande país no cenário internacional.

Olhar do Vale: porque que o sul seria um país interessante economicamente falando?

Celso Deucher: se fossemos um país hoje, o nosso PIB per capta seria quase 6% maior que o PIB per capta do Chile. Ou seja, nós seriamos o primeiro país na America Latina com um pezinho no primeiro mundo. Mas existem também os nossos problemas: se olhar direito o sul tem favela, aqui em Brusque nem tanto, mas vai a Porto Alegre. Eu fui à Lagoa Vermelha outro dia e fiquei surpreso. Tem gente passando fome no sul. O favelamento está crescendo porque falta recurso. Um dado do portal da transparência mostra que  nos últimos três anos, Brasília levou do sul do Brasil quase 350 bilhões de reais. Eles devolveram  80 bilhões. Significa que eles ficaram com 270 bilhões e nunca mais vão aparecer. Aí a presidente vem falar dos estados endividados com a união, que os três estados estão endividados, mas que dívida? Eles não sabem fazer conta? O quanto eles levaram menos o que devolveram? E quando nós denunciamos, eles dizem “ah esses caras do separatista são meio loucos”, mas hoje as pessoas vêem que não são tão loucos assim. As pessoas têm que conhecer  melhor como funciona isso, não é pra amanhã que nós vamos separar, nós estamos discutindo essa questão, nós estamos trabalhando na conscientização das pessoas. Daqui a pouco pode ser que aconteça como na Escócia onde fizeram um plebiscito e a população disse não. Se acontecer,  tudo bem nós vamos continuar sendo brasileiros, o movimento cumpriu o seu papel, que é discutir a questão da separação.

Para quem estiver interessado, Celso Deucher irá fazer uma palestra hoje (4), às 19 h, no Sindicato dos Mestres e Contramestres de Brusque, explicando melhor tudo o que foi discutido na entrevista. Quem quiser mais informações pode procurar nas páginas oficiais no facebook, no site www.meusul.net  ou nos telefones (47)  33967593 ou 91382929.

Por Victória Severo

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