“Falta a mediação dos partidos políticos”, diz cientista político sobre manifestos


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Foto: arquivo pessoal/Facebook –

Brusque – Os novos protestos contra o governo federal, marcados para a manhã e tarde deste domingo (12), apesar de concentrar um número consideravelmente menor de adesão, ainda recebeu muita atenção por parte da imprensa local, regional, estadual e, também, nacional. Canais fechados de notícia, por exemplo, passaram o dia todo, praticamente na íntegra, mobilizando sua equipe de reportagem nas principais cidades onde o povo mostrou sua indignação com o cenário político atual.

Mas o governo, liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ainda precisa se preocupar? Qual é o verdadeiro foco dos manifestantes? Eles precisam de uma pauta central e única? Várias perguntas ficaram sem respostas para muitas pessoas após os atos deste domingo. Pensando nisso, a reportagem de Olhar do Vale (ODV) entrevistou, com exclusividade, o cientista político Carlos Eduardo Sell. Atualmente lecionando na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sell é bastante requisitado na hora de comentar acontecimentos e cenários políticos.

Confira o bate-papo:

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Olhar do Vale (ODV) – Como o senhor avalia as manifestações de hoje em todo o Brasil, contrapondo-os com o do dia 15 de março?

Carlos Eduardo Sell – Já está claro que, do ponto de vista quantitativo, elas foram menores, ainda que tenham se enraizado mais nas pequenas e médias cidades. Mas, não se deve menosprezar seu lado qualitativo e seu potencial político. As organizações de esquerda conseguem mobilizar muito menos setores da população. Portanto, esses protestos mostram que o governo federal e o PT continua profundamente desgastado. Por outro lado, há um sentimento de desesperança. Sem um partido político que encampe esse sentimento difuso de insatisfação, um processo de impeachment não tem condições de avançar.

ODV – Olhando apenas para Brusque, o senhor acredita que o atual momento político ajudou a diminuir a manifestação de hoje?

Sell – Acredito que o fato de que o próximo prefeito de Busque vá ser eleito pelo voto indireto trouxe uma enorme decepção para uma ampla parcela do eleitorado. Ao mesmo tempo, lideranças políticas envelhecidas e com débitos na justiça também reapareceram, frustrando o discurso ético de muitos. A população se sente alijada do processo, com a sensação de que a mobilização não produz resultados.

ODV – Apesar do número massivamente menor em todo o Brasil, o governo ainda precisa se preocupar com “as vozes das ruas”?

Sell – Ele está preocupado. Além disso, se provas jurídicas mais robustas de envolvimento da presidente com esquemas de corrupção aparecerem e, principalmente, se a situação econômico social continuar se deteriorando, os protestos vão voltar e crescer.

ODV – O senhor acredita que a falta de um foco central atrapalha e confunde o brasileiro na hora de pedir a deposição do atual governo?

Sell – Desde junho de 2013 a atual onda de protesto já evoluiu de amplamente difusa (contra todos os políticos e partidos) para um perfil claramente antigovernista. Mas, eles não conseguiram se unificar em torno da pauta única, que só poderia mesmo ser o impeachment. Falta também a mediação dos partidos políticos.

ODV – Apartidarizar, ou pelo menos tentar fazer isso com os manifestos, é o melhor caminho, na sua visão?

Sell – Há nos protestos em curso a mesma ilusão que já partilharam grupos de esquerda: a de as mudanças políticas vem sempre de baixo para cima, dos movimentos sociais para o Estado. Os partidos, como elos de ligação da sociedade e do Estado, são necessários no processo político. De qualquer forma, os partidos de oposição (em especial o PSDB) tem se mostrado incapaz de ligar-se organicamente aos grupos organizados.

por Wilson Schmidt Junior

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